sexta-feira, 30 de junho de 2017

O CARRO DE BOIS .

Os bois os bois os boizinhos 
Leões com corações de passarinhos

Ainda oiço o chiar do carro carregado até cima, com a folhagem
a roçar o chão, avançado lentamente pelo caminho marcado na
terra irregular, lamacenta, um trilho vincado por tantas viagens,
por muitos outros pequenos cultivadores .

A aventura desse dia era ir à mata, uma das minúsculas parcelas 
de terreno, que o meu Avô Garcia tinha herdado em Vodra, uma
terreola bem junto a Seia . 
O pecúlio da família incluía ainda uma pequena vinha, na Arrifana
e um pedaço de terreno cultivado por aí, nem eu sabia muito bem
onde se localizava .

Mas a tarefa do dia, ou do ano, era limpar o mato que cobria já
uma parte dos pinheiros, escolher um ou dois pinheiros para pro-
ver  às necessidades da família  .

Havia lá em casa um fogão a lenha, uma maravilha da engenharia,
uma espécie de porco mecânico, onde tudo era perfeitamente apro-
veitado .

Naquele tempo, anda se cozinhava no pequeno fogão a petróleo,
mas só para pequenos biscates, que a família era grande e a aumen-
tar de ano para ano .

A arma secreta era pois o grande fogão, que tinha muitas finalida-
des . Uma peça multifacetada e multi usos, que ainda hoje mexe 
com a minha imaginação, e com o meu pobre corpo dorido .
Mais de uma vez provei a dôr da água a ferver, a escorrer pelas 
pernas abaixo .

Deixei para trás o carro e os bois, chiando durante toda a viagem .
Muitas vezes me perguntava porque chiava o carro daquela manei-
na . Até parecia que eram mesmo os bois a queixar-se do esforço 
hercúleo que faziam .

Por isso me vêm à memória os versos de António Lopes Vieira .

.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

O BANQUETE FANTASMA .

Olhava para as pessoas, mas não as via  .
Parecia que pertenciam a outro espaço e a outro tempo .

Pareciam fantasmas .

Falavam muito e muito depressa e não conseguia acom-
panhá-los . a conversa não tinha qualquer sentido .
Ou então, era eu que tinha a minha cabeça noutro lugar
qualquer, estava presente noutro cenário, movia-me nou-
tro filme, que nada tinha a ver com a minha  realidade .

Era tudo muito estranho .

Seria que tinha voado para outra dimensão ?.
Incarnado outro personagem ?.
Ou será que enlouqueci  mesmo ?.

Ouço as pessoas a falar , talvez para ouvir a própria voz,
na ânsia de mostrar serviço, quiçá para demonstrar que 
existem, ou fazerem prova de vida, como num imenso 

baile de máscaras.

numa noite de S. Pedro . . .

De repente, voltei a mim, cansado, exausto .

Doía-me o rabo, de tanto lutar com a dureza da madeira 
da cadeira .

Aproveitei uma aberta, e caminhei para o Metro .

Ainda por cima, Portugal havia falhado o apuramento para a 
final da Taça das Confederações ...
.

No tempo em que as árvores morriam de pé .

Resineiro, resineiro,
Com tristeza no olhar,
Eu hei-de ir à terra dele
Se ele me lá quiser levar .

Resineiro, resineiro,
É casado e tem mulher .
Eu hei-de ir à terra dele,
Quantas vezes eu quiser ,


Juntamente com a madeira, 
era a resina a grande fonte de rendimento dos habitantes 
do pinhal interior .

Rasgavam-se as árvores com um  golpe em forma de hé-
lice e punham-se uns penicos de barro a apanhar a resina
que escorria das árvores esfaqueadas .

Vinha gente de todo o lado no tempo da safra .

Havia fogos, certamente, uns postos propositadamente, ou-
tros iniciados pelas beatas de transeuntes descuidados, ou-
tros ainda com ignição provocada pela própria resina .

Mas muitos dos pinheiros acabavam por 
ser abatidos devido à sua idade e eram 
transformados em madeira ou em lenha .

Havia muitos fogos, mas havia também quem se dedicasse 
ao seu controle .

No mês de Agosto, com as tradicionais festas e romarias, em
homenagem a todos os Santos que havia nu Céu, e apesar das
diligências de São Pedro, o número de fogos era maior .

Mas para isso, havia garbosos bombeiros voluntários que luta-
vam àrduamente com a natureza malévola.
.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

O DIREITO À DIFERENÇA .

De médico e de louco, 
todos temos um pouco .

As pessoas têm tendência para viver em tribos, em grupos
organizados, que, em regra comungam as mesmas normas,
os mesmos hábitos, as mesmas ideias, os mesmos princípios .

Assim se sentem mais protegidas, no interior do respectivo 
agregado .

Desconfiam do desconhecido,  recolhem-se com facilidade,
sempre que algo de diferente, de obtuso, qualquer pequena 
excrescência que se lhes ofereça pela frente .

Por muito pequena que pareça .

Por muito pouco, pode começar a descriminização, a segrega-
ção, o medo e a insegurança . conduzindo ao isolamento da-
quele que, por qualquer razão, não se restrinja à cartilha úni-
ca, ainda que, tantas vezes, é essa diferença a conduzir a
uma melhoria significativa do grupo .

E isto, manifesta-se em todos os aspectos da nossa vida em co-
munidade , designadamente quando tais diferenças adquirem
aspectos políticos, ideológicos, religiosos ou de género, ou tão
sòmente pela simples maneira de as pessoas se expressam, de-
signadamente pelo seu temperamento.

É a norma .
É o sentimento normal .
É a interiorização da normalidade .

Como se cada um de nós não fosse um ser irrepetível, diferente 
e com todo o direito a assumir a sua diversidade .

Essas pessoas, julgadas na praça pública, têm direito ao uso de
pulseira electrónica, ou uma campainha especial, à maneira dos 
leprosos .

E isto poderá acontecer para pequenas coisas de pormenor, sem 
qualquer importância, mas pode existe sempre,  ainda que de 
uma maneira remota, o temor de vir a revelar-se em questões 
fracturantes . 

Tal estado de espírito , se não for removido, dará lugar a um vírus
psicológico, de consequências bem nefastas .
.
.

AINDA OS OURIÇOS .

Há bastantes anos que acompanho de perto, aqueles ouriços 
da história que o meu pai me contava .
Encontro-os de quando em vez, junto ao bosque que ladeia
a estrada que atravessa a minha terra .

Estão mais velhotes .
Deslocam-se com alguma dificuldade .
Continuam a aquecer-se no asfalto quente, quando a noite cai .

Estão agora já com aquela idade, em que tudo lhes complica a
vida, mais sensíveis, mais rabugentos, como costuma aconte-
cer às pessoas já de certa idade .
Ouvem mal, vêem mal, então não é que agora desataram a dis-
cutir por dá cá aquela palha .

Mas o pior, é que cresceram demasiado os picos, como acontece
com as unhas dos gatos .
Agora, para se aquecerem um pouco no Inverno, já têm conviver
cada vez mais afastados, para não se magoarem um ao outro .

E até já lhes sabe bem, por vezes, afastarem-se, e ir cada um pa-
ra seu lado .

Até pode acontecer que encontrem alguém com os picos picos mais 
pequenos e mais tenrinhos ...
.

terça-feira, 27 de junho de 2017

O GRANDE LAGO AZUL .

Lá vai Moura, lá vai Serpa
E Pias fica no meio ;
Em chegando ao Guadiana,
As ondas me vão levando .

O milagre do Alqueva .

Afogaram uma aldeia inteira, com o cemitério e os mortos
lá dentro, transladaram toda a Aldeia, a Igreja e a Escola,
tudo foi posto a recato .

Quando se abriram as comportas, o sítio antigo desapareceu,
mas em seu lugar, nasceu uma nova terra - A Aldeia Nova da
Luz .

É a velha luta contra e a favor do -
Progresso .

É sempre assim .
Há sempre uns quantos que se sacrificam, a favor dos mais no-
vos, abrindo caminho às novas realidades .

À medida que a água se ia espalhando pela secura da paisagem,
ia nascendo o gigantesco espelho de água, iluminando uma imen-
sa região do Alentejo, cantado por muitas gerações de alenteja-
nos, que sempre acreditaram num futuro melhor para os seus fil-
hos .

E toda a Terra foi milagrosamente polvilhada. por milhões de ár-
vores, que irão alterar para sempre a nova paisagem .

Um milagre que era devido há séculos .
.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

O SUICIDADO .

O idiota do Passos Coelho,
num acto de estúpido desespero,
passou o dia a declarar que tinha
havido bombeiros que se tinham
suicidado, em virtude dos trágicos
acontecimentos relacionados com 
os fogos da última semana,

o que se revelou ser completamente
falso . 

PALHAÇO .

Quando é que 
tu te suicidas de vez ?!...
.

CONSTRUAM-ME, PORRA ...

Quando as obras da barragem do Alqueva estiveram paradas,
durante anos e anos, já com parte do paredão construído 
(não sei se foi o Cavaco Silva que precisou da massa para acu-
dirà fúria das auto estradas),
houve um compadre que nele escreveu, com letras enormes, 
para que fossem vistas do céu :

CONSTRUAM-ME, PORRA ...

Finalmente, as obras continuaram .

Era esse o sentimento que  toda uma região martirizada exprimia
com essa palavra, comungada por todo o Povo Alentejano, habi-
tuado ao sequeiro prolongado, das terras ao Deus dará, e à dure-
za do corpo e da alma de uma região tão mal tratada .

Esses senhores de Lisboa e dos Algarves, não queriam que os co-
munistas bebessem a sua água e pudessem cultivar as suas terras,
deixando-a escorrer livremente para o mar .

Iam somando subterfúgios pseudo ambientais, uns atrás dos outros,
para esconder razões políticas, deixando à míngua e ao abandono
uma extensa parte de Portugal .

.

AS MARAVILHAS DA NATUREZA .

Quando era miúdo, fui fazendo a colecção das Maravilhas
da Natureza, que ainda hoje guardo numa caixinha, que fui
transportando de casa em casa, como se fosse uma relíquia .

Algumas dessas maravilhas vim a conhecê-las na realidade,
ao longo da minha vida .
Outra permanecem na minha memória, dentro da caixinha .

Havia algumas delas que, para agradar aos editores portugue-
ses, diziam respeito a Portugal, a Cabeça da Velha, a Lagoa 
das Sete Cidades e os Cântaros da Serra da Estrela .

Mas havia muitas outra verdadeiras maravilhas que me dei-
xavam de boca aberta ( On y soit qui mal y pense ), que me
impressionava poderem ter existido na realidade .

Ora aí está( estão) uma delas :

As Grutas de Aracena,

na Província Espanhola de Huelva , de descoberta ainda re-
cente .

A parte das grutas que está à mostra, numa extensão de mais 
de dois quilómetros, está disposta numa série de salas e lagos.
formados há dezenas ou centenas de milhões de anos, numa
sucessão espantosa de estalaguetites e eslalaguemites, com as 
formas e os tamanhos mais incríveis, mas todas de uma beleza
impressionante,
de que posso destacar a imensa catedral e a sala do corpo hu-
mano .

Nesta última o guia avisou. que não era necessário qualquer 
comentário a fazer, e que deixassem à solta,  a sua imaginação
de cada um.

Assim fiz ...

.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

O MENINO DE OIRO .

Eu tinha umas asas brancas
Asas que um anjo me deu
Quando estava cansado da Terra
Batias e voava ao Céu .

Toda a gente gabava os meus lindos  caracóis loiros .
Um dia levaram-me ao barbeiro, sentaram-me no banco suplente 
e cortaram-mos .

Lá se foi a minha meninice para o caixote do lixo, varrida para 
chão da barbearia .

Deve ter sido o primeiro acto de hostil com que fui mimoseado, e no
entanto, tratou-se  simplesmente de uma questão de higiene .  

Cresci entre avós e tios, sempre na vadiagem, no meio das brincadei-
ras inocentes, que inventava a todo o momento .

A minha Santa Mãe trazia mais um irmão para casa, de modo que
eu tive que me fazer à vida bastante cedo .
Rapidamente era considerado apto para todo o serviço .

Não pertencia a nenhum gang da malandragem, nem nenhum grupo
de malfeitores organizado . 

Era um um patife autodidata, autónomo, mas que ia a todas. 
Onde houvesse confusão, lá estava eu dando a minha colaboração 
desinteressada .

Como estava sempre a mudar de quartel, nunca tinha tempo para fa-
zer grandes amizades, e não conseguia subir na escala dos malandros .

Mas, como praticava em diversos teatros de operações,  rapidamente 
adquiria a prática para acamaradar  em qualquer grupo, e ia ganhando
experiência para o futuro .

Era uma espécie de capital de risco .
.

Agora, tantos anos depois,  com os cabelos brancos a rarear e a memó-
ria a falhar, já não tenho ninguém com quem brincar.
Brinco com a minha gata, A BRANQUINHA, faz-me companhia, vai
buscar os brinquedos que depôe ao pé de mim, à espera que a brincadei-
ra comece . Como acorda muito cedo, pode estar horas ao pé de mim e
só dá sinal quando eu dou sinal de vida .
Joga bem com as quatro patas e defende com as mãos .
Provoca-me quando páro, e só brinca quando estou a ver .
Joga à apanhada, e sempre que visto o casaco, ela põe-se à porta, para a
deixar um bocadinho .
Anda pelo patamar e desce até ao primeiro patamar .
Sempre que foi mais longe, assustou-se muito e tive que agarrá-la para a 
trazer para casa .
Se estã frio, dorme abraçada a mim, se está calor sabe instintivamente onde
encontrar a melhor corrente de ar .
Às vezes acordo mal disposto durante a noite  e ela segue-me lentamente, 
como a querer ajudar .
Arranjei uma pequena ajudante de enfermeira ...
.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

O DESCRÉDITO .

Portugal tinha começado agora a sair muito lentamente
do abismo em que tinha caído,
tentava levantar a cabeça, até já os burocratas de Bruxelas
iam olhando para nós, espantados com os números que o 
Mário Centeno ia cozinhando, sabe-se lá como, e a gerin-
gonça mostrava alguns sinais de boa saúde, habituando-se 
à sua velocidade de cruzeiro .

Aproximava-se o período das férias, dando lugar à desbunda
geral de políticos e de neófitos e já se contavam as notas para 
a miríade de concertos e festivais, espalhados um pouco por 
todo o território nacional .

Álcool, sexo e rock and roll .

Até a nossa mísera oposição tinha baixado a sua fúria fixista,
baixando a crista ( onde é que já ouvi esta palavra ) .

Tudo corria no melhor dos mundos,
quando ocorreu o fenómeno da

trovoada seca .

Quem viveu no campo, mesmo que por pouco tempo, está 
habituado a ler os sinais da natureza .

Longe do bulício das cidades, sente-sa ao longe, a tempestade

a aproximar-se sorrateiramente.
Primeiro instala-se um silêncio de morte .
Nem bichos, nem pássaros bulem, o silêncio corta-se à faca,
parece que a terra para .
O céu vai escurecendo, gradualmente, até assumir o negro o
negro de breu, 
e começa o vento a uivar , primeiro ao de leve, depois como 
um trovão .

De repente, soa um imenso trovão, parece que tudo vai des-

moronar-se . O astro explode e incendeia-se instantaneamente,
como se o sol tivesse surgido naquela escuridão .
E o mar desaba em cima de nós .

Podia ter acontecido assim.


Mas não. 
Faltou a água na natureza .

Os néscios e os tecnocratas, por muito bons, que o sejam,
deveriam saber prever o imprevisível, mas não sabem, apesar de
a meteorologia ser considerada uma ciência (quase) exacta .

É conhecido o facto de uma borboleta, ao bater um pouco as asas
no Oceano Pacífico,
poder desencadear um ciclone, em pleno Oceano Pacífico .
.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Não se brinca com o fogo .

A culpa morre sempre solteira .

Não vem ao caso, nesta altura, andar à procura da culpa pelos
trágicos acontecimentos do centro do País .

Como diria o Marquês de Pombal,

agora é o tempo de enterrar os 
mortos
e cuidar dos feridos .

Depois, não poderemos deixar de fazer profundo exame 
de consciência, sobre as circunstâncias que tornaram este Desastre-
Tragédia, numa monstrosidade que nos envergonha a todos nós .

Há muitas décadas que andamos a brincar ao fogos florestais, como

quem brinca com soldadinhos de chumbo, experimentando (experi-
mentando é o termo adequado) tácticas, métodos de combate, orga-
nização da cadeia de comando, que se revelaram obsoletas, para 
não dizer criminosas,
face ao poder de destruição dos nossos recursos e, quantas vezes, ao
trágico destino de tantos e tantos, que deveriam ter direito a viver 
uma vida decente a que poderiam ter direito, e que foram ceifados,
pela simples razão de amarem a sua terra .

Para quando tentar curar as feridas, 
e as profundas cicatrizes deixadas todos os 
anos, 
e começar a tentar solucionar o cancro dos in-
cêndios florestais  no nosso País ?!...

Quando ouvires um sino a dobrar,
ele dobra por ti .
.

terça-feira, 20 de junho de 2017

TRAZ O DESASTRE ...

Desabamento da Gibalta (Linha do Estoril) .

Explosão da Fábrica de Braço de Prata .

Queda da Estação do Cais do Sodré .

Queda da Estação de Santa Apolónia .

Incêndio na Igreja de S. Domingos .

Incêndio do Teatro D. Maria .

Incêndio do Teatro Avenida .

Incêndio da Baixa- Chiado .

Inundações de 1967 .

Terramoto de 1968 .

Incêndio do Instituto Hidrográfico .

Morte de um pelotão na Serra de Sintra .

Incêndio da Faculdade de  Ciências de Lisboa .

Descarrilamento em Alcafache (Linha da Beira Alta ) .

Incêndio no Funchal .

Cheias na Madeira .

Vulcão dos Capelinhos, nos Açõres 

que me lembre ...
.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

O PORQUÊ DAS COISAS .

Finalmente, começou a tratar-se de alguns problemas
importantes que têm a ver com as questões da posse e 
do uso das terras, especialmente quando a floresta está
presente no ambiente rural .

A floresta não deve, não pode, 
ser definida, apenas, pelo critério  da sua posse e utili-
zação, 
Acresce que a venda de madeira, é somente um dos be-
nefícios da actividade florestal, 
e nunca deveria ser o mais importante deles, malgré
as questões económicas envolvidas .

Parecendo uma questão supérflua, é a primeira razão
para providenciar um ambiente capaz de evitar a pro-
pagação das ignições provocadas nas florestas, que con-
duzirão então, à minimização de todos os outros facto-
da desgraça moral e material, que todos os anos, mais 
ou menos, por esta época do ano, revivemos .

Depois, ou ao mesmo tempo, urge tratar a floresta como 
um instrumento vital para o ordenamento físico dos ter-
renos e conseguir uma cuidada selecção de espécies, mais 
mais amigas do ambiente .

É da vida ...
.

A origem do CO2 .

Não quero falar das emissões aleatórias de CO2 
resultantes da actividade vulcânicas, 

mas não posso deixar de falar da maior fonte de
emissões de gases com efeito de estufa, a saber, 

as que se referem ao chamado uso da terra e as
quais não contam para a sua contabilização, nos
relatórios oficiais, 

as emissões de gases resultantes dos incêndios flo-
restais

as que englobam as imensas emissões de metano 
resultantes da plantações de arroz, 

e  também o metano proveniente da da acção 
da ruminação dos animais .

E esta, hem ?!...
.

AS ALTERAÇÕES IDEOLÓGICAS .

Dir-se-ia uma paisagem da Guerra do
Iraque , com os carros de combate todos 
queimados .

Mas não, era a estrada nº. 236,  entre Figueiró dos Vinhos e 
Castanheira de Pêra, com os carros completamente destruídos 
com os corpos calcinados, espalhados, dentro e fora das viatu-
ras .

Ainda os cadáveres não tinham arrefecido, e já os paineleiros
de serviço, estavam a fazer a autópsia detalhada do aconteci-
mento, comodamente instalados nas poltronas das salas dos te-
le jornais, vomitando bitaites, a torto e a direito sobre o incon-
tornável drama dos fogos florestais .

Uma vez, fui em missão, observar a floresta virgem de Fontaine-
bleau, tão virgem que não se podia andar com sapatos .
Há muito tempo que por ali não passavam seres humanos nesse
santuário da natureza .
Foi então que percebi que os mais criminosos, não são os que 
aproveitam a floresta como sustento, mas aqueles que, em nome 
de preconceitos ideológicos, deixam crescer as árvores a esmo .

As árvores encelhecem todas ao mesmo tempo, e a floresta mor-
re toda em uníssono, porque fica, anos e anos a fio, sem que al-
guém cuide dela . 

Os políticos e tecnocratas de todos os matizes, em vez de matar 
a cabeça com tolices, deveriam meter mãos à obra e começar a
legislar e a tratar de proporcionar os instrumentos para come-
çar a desenvolver um tratamento racional da floresta portugue-
sa, melhorando as condições de vida de uma população velha e 
rarefeira da população rural do nosso País ...

Alterações climáticas,
ou alterações ideológicas ?....
.

domingo, 18 de junho de 2017

Pobres de espírito .

Percorremos as profundezas dos mares, nas caravelas
em cascas de noz, fomos à lua em foguetões siderais, 
travámos centenas de batalhas, quase todas ganhas aos
adversários, guerreámos por todos os continentes, que 
havíamos conquistado, vertendo e espalhando o nosso
sangue por toda a terra conhecida, mantendo Portugal
livre e independente .

Ganhámos à bola em diversos tabuleiros, somos os mel-
hores do Mundo, em várias modalidades, nas artes e nas 
letras, semeámos gente ilustre e famosa em toda a parte,

mas falhámos redondamente,

mas desprezámos, em absoluto, as nossas maiores rique-
zas naturais, a TERRA e o MAR, aliás cantadas nas es-
trofes do nosso Hino Nacional .

E elas são, tão somente, a maior Zona Económica Exclu-
sica Marítima da Europa e uma das maiores do Mundo,
e a maior Mancha Florestal da Europa .

Dá Deus nozes, a quem não 
tem dentes .
.

O TERRORISMO DE ESTADO .

Problemas de emergência,
exigem soluções de emergência .

Os nossos terroristas estão cá dentro, dentro do País, 
e dentro de nós próprios .

E o maior terrorista é o terrível preconceito da pro-
priedade privada, como se fosse possível enquadrar o 
solo, a floresta e o fogo, numa esquadria bem delineada,
e tudo ficaria resolvido .

Cambada de ignorantes .

Terroristas somos nós todos, pelo desprezo, pela displi-
cência, pelo abandono, pela indiferença, que votamos a 
questões que vão muito para lá da bola e das novelas, e
das tricas de caca que tanto preocupam os nossos políti-
ticos júniores, seniores e da velha guarda .

Então os políticos, fazem contas e mais contas, dão cam-
balhotas com os números, piruetas com as taxas e tachin-
has, mas nada entendem da vida real .

E essa, tem a ver com a perda de vidas humanas, a dor 
dos que partiram, e a dos que ficaram .

Não entendem que cada vida ceifada, cada sofrimento 
vivido, cada árvore derrubada, é o PIB que encolhe em
prorssão geométrica, até o País se esvair em seiva humana .


O que contam são as pessoas .

Cínicos de todos os matizes,

perdoai-lhes,
que eles não sabem nada,
nem o que dizem, nem o que fazem,nem o que pensam .

De boas intenções,
está o Inferno cheio .
.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

FRÉMITO DE PAIXÃO .

Ai, quem nunca curtiu uma paixão,
Não sabe nada, não ...

Quem nunca mergulhou no abismo da volúptia
Quem nunca morreu por instantes
e regressou à vida,
e respirou de alívio,
saciado pela ternura do prazer .

Quem nunca se perdeu na ânsia
de alcançar o êxtase,
onde se mistura a doce violência
e a paz gratificante 
dos corpos entrelaçados .

Quem nunca experimentou um encontro cósmico,
à velocidade da luz,
e logo apagando tudo
dentro e fora do próprio corpo,
numa explosão,
como se um raio nos fulminasse .

Só então a paz interior nos consola
e podemos saborear lentamente
a felicidade que parece que não acabar .
Morremos e renascemos no instante,
que tanto desejamos e tememos .

Como se o mundo parasse de repente,
numa pulsão de desejo,
que esmorece pouco a pouco .
Sente-se a tempestade a chegar.
numa faíca prestes a iluminar os nossos seres .

Atordoados,
o tempo pára, sem nos apercebermos .
Somos tão iguais e tão diferentes,
com o mesmo objectivo comum -
a procura da felicidade .

Ai, quem nunca curtiu uma paixão, 
não sabe nada, não ...

Para Pablo Neruda,
que me ensinou a magia das Metáforas .

.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

A MORTE DE GAUDI .

Morreu na contra mão
Atrapalhando o tráfego

Morreu na avenida
No passeio estúpido

Morreu atropelado
Pelo carro eléctrico

Esperou na morgue
À espera do enterro público .

De Xico Buarque .

O que seria se António Gaudi tivesse vivido até aos cem 
anos .
Que mais maravilhas nos teria legado, se tivesse vivido
tão intensa e apaixonadamente, durante muitos mais mais 
anos .
Os génios não morrem jamais, perduram para sempre na
memória dos seus admiradores, nunca se extinguirá a luz
ofuscante que nos proporcionam .

Já passou mais de um século que o sonho de Gaudi se co-
meçou a concretizar .

A obra do grande visionário foi interrompida várias vezes, 
por razões trágicas, mas sempre persistiu a determinação 
dos seus seguidores, preservando, em condições extraordi-
nariamente adversas, guerras, revoluções, destruições bár-
baras, de tudo um pouco, mas Gaudi supervisionava lá de ~
cima .

Quem disse que as Catedrais não levam 
séculos a ser erigidas ?....
.


quarta-feira, 14 de junho de 2017

A CATALUNHA e PORTUGAL .

Terras de passagem

Terras de Fronteira

Terras de revolta 

É espantosa a similitude entre a Catalunha e Portugal .
Romanos, Fenícios, Cartagineses, Romanos, Árabes, per-
correram os mesmos caminhos, quase na mesma altura .

Interessante como foi com a "ajuda" dos Catalães, que
mantiveram uma revolta contra os povos dominantes da
Península Ibérica, Castelhanos e Aragoneses, de 1640 até
1652, que permitiram a sublevação do Reino de Portugal,
naquela data, cem grandes dificuldades .

Já anteriormente foram os Reis Católicos que amordaça-
ram os povos da Catalunha .

Com o advir dos Fascismos, Português e Espanhol e no 
seguimento da tenebrosa Guerra Civil de Espanha, foi no-
vamente amordaçada a Catalunha, tendo sofrido imensas
baixas materiais e humanas . .

Ora, este País, tal como Portugal e a Galiza, tinha adquirido 
a categoria de Condado, designação que se manteve até aos 
nossos dias .

Aliás, o Conde de Barcelona, familiar do Rei de Espanha este-
ve (está ?. ainda), exilado em Portugal, no Estoril .

Foi a religião e a política de alianças, que traçou destinos dis-
tintos para Portugal e a Catalunha .

Portugal andou sempre a lamber as botas ao Papado, até uma
vez ofereceu um elefante a Roma .
Por outro lado, como ficámos do lado de fora do Oceano Atlân-
tico, a matreira raposa inglesa, obrigou-nos. umas vezes a bem, 
outras vezes, a mal , a ser o biombo das potências continentais,
a Espanha e a França .

Desgraçadamente, a Catalunha , país independente há dois mil 
anos, foi traída por Aragão, e sempre esmagada entre os Francos 
e Castela .

Para complicar as coisas, o Condado Catalão meteu-se numa 
guerra religiosa, da Igrja Católica contra os Cátaros, e a Ca-
talunha apanhou por tabela .

Mas, como ontem escrevi, estou convencido, 

que, desta vez, isto Vai mesmo .

.

terça-feira, 13 de junho de 2017

A HORA DA CATALUNHA .

É desta que isto vai .

Catalunha,

Terra e povo,
tantas vezes apunhalado pelas costas, um País diferente 
de todos os outros, situado na fronteira entre Castela e os
reinos dos Francos, tão sacrificado durante a Guerra Civil 
Espanhola, e a quem devemos a independência de Portugal, 
em 1640 .

Só por maldade ou ignorância, se pode defender a sua tão
longa permanência sob a garra de  uma Castela poderosa e 
concentracionária .

.

Viva BARCELONA .
.
.

ANIVERSÁRIO .

Parabéns

Ao Fernando Pessoa

à Maria Helena Vieira da Silva ´´

e à Elsa Casimiro .
.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Férias .

Estou uma semana fora.
Talvez consiga comunicar por lá .
Que sorte,
sem terem de me aturarem estes dias todos .

Mário Plácido .
,

Pérolas Cariocas .

"..., Felizmente que ainda há no Brasil
  a honra das mulheres, mas a honra das 
  mulheres não deve ser artigo de museu,
  antes deve ser posta ao serviço de todos
  os brasileiros ."

Carlos Lacerda
Ex- Governados do Estado da Guanabara
Anos 60 .
.

domingo, 4 de junho de 2017

A GRANDE FARRA .

No princípio era a CPE - Companhia 
Portuguesa de Electricidade,
em união de facto com a Sacor, 
que constituiam um um concubinato 
ilegítimo e sórdido, que mandava neste 
País .

Com o 25 de Abril tudo mudou para ficar tudo na mesma .
Ou melhor, ficou tudo pior, muito pior .

Juntaram-se os trapinhos, com a benção de sucessivos governos, em era
sempre um Ministro da Economia da EDP, com um-Secretário de Estado 
da Sacor , que alternavam de tempos a tempos, de modo a manter a mão
na massa, desde tempos do antigamente, até aos tempos de hoje .

Nacionalizaram todos os passivos, fizeram e desfizeram empresas fictícias, 
umas após as outras, sem qualquer intervenção de reguladores, venderam 
a REN- Rede Eléctrica Nacional (pertença de todos nós) aos chineses, por 
tuta e meia, combinavam entre si os preços, os dividendos, as cotas de mer-
cado, os ordenados dos bosses, e os prémios de ruína dos diferentes acto-
res desta nojenta farsa .

Até chegaram a propor uma renda para liquidar as rendas atrasadas a pagar
pelas sucessivas gerações de mortos .

Ora agora (?) aí temos a ladroagem 
com os cornos de fora, 
com o execrável António Mexia, 
à cabeça .

E, dizem os crentes, que Deus não dorme.
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sábado, 3 de junho de 2017

UMA BOA ACÇÃO .

O Benfica é o campeão .

O Benfica é o campeão das obras de solidariedade social .

Como o Dia Mundial Contra a Fome, organizado pelo Banco 
Mundial contra a Fome, calhou no dia do penúltimo dia Cam-
peonato Nacional de Futebol, jogado na Catedral da Luz, com
a vitória do Glorioso, dando o Tetra ao Benfica, o Presidente
do Clube, sentindo que que aquela realização fora prejudicada
pela drástica redução na recolha de fundos, decidiu abrir o Es-
tádio do Benfica, para fazer recolha de géneros naquele lugar sa-
grado, abrindo as portas a todos aqueles que participassem na
aludida angariação de bens para o Banco Alimentar .

Havia ainda o aliciante de ser proporcionada a todos os presen-
tes, uma mostra dos principais troféus ganhos pelo Benfica, du-
rante a sua vida já secular .

Parabéns Benfica .
.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

O HOMEM, ESSE DESCONHECIDO .

Cabelo branco é saudade 
Da mocidade perdida
Às vezes não é da idade
Mas dos desgostos da vida

As palavras podem ser mensageiras de alegria e de 
felicidade,
mas também podem ferir como punhais e levar a dor 
e o sofrimento aos outros .

Mas há palavras que por vezes têm que ser ditas, por
mais que nos custe e que custe a terceiros .

Há alturas em que a ferida tem que ser sangrada, para 
depois se conseguir curar, e depois logo sara e cicatriza .

As dores do corpo são ruins, mas a gente aguenta .
Deixam marcas e cicatrizes profundas .

Mas que dizer de golpes do coração, esses sim, acabam 
por ser tratados, mas a que custo e a que desgosto nos 
submetem . 

Só o tempo, e à vezes nem ele, se compadece de nós .
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quinta-feira, 1 de junho de 2017

OS HETERÓNIMOS .

Fernando Pessoa foi um grande escritor, disso 
não tenho qualquer dúvida, poeta grande, da 
cabeça aos pés .

Que tenha vestido a pele de quatro ou cinco 
personagens, como nas peças de teatro, ou a 
partir das características do momento, da dis-
posição,  por necessidade de caracterização
ou estudo das várias facetas da alma humana, 
poliforme e estranhamente indecifrável, vá que 
não vá, é o génio em acção. 

Mas encarnar dezenas e dezenas de heterónimos,
que foram saindo do baú, a velocidade da luz, é 
que já me parece loucura ou brincadeira de uns 
maduros que não têm mais nada em que usar o 
bestunto .

Pobre Pessoa ...
.