sábado, 22 de julho de 2017

ESCOLA DA NOITE .

Para os homens
que nunca foram meninos .

Alves Redol .

Tinha algum jeito para o desenho . Era pelo menos o que os 
meus familiares diziam . Como é que podia ser artista, se eu 
nem sequer dispunha de material adequado para mostrar as 
minhas habilidades .
Diziam os meus avós, que deveria sair ao meu Tio Lucas, um
santeiro que tinha feito o Menino Jesus, que havia na Igreja 
paroquial de Seia .

Tinha feito alguns desenhos baseados nas gravuras dos princi-
pais escritores que vinha no livro da 4ª. classe, e um esboço de
retrato do meu Pai, numa época que ele era mais forte  .

Nesse tempo,  jogava à bola, era back central no Seia Futebol 
Clube .

Mas nessa altura, a arte ainda não entrava 
nas minhas cogitações .

A bola e as correrias eram as minhas grandes preocupações .


E andar à aventura com outra malta, na gandaia, sem destino, 
tipo 

Os Capitães da Areia, 

inventando brincadeiras, algumas roçando o perigo .
uma espécie  de 

Crónica dos Bons Malandros, 

à nossa medida .

E havia a Escola, bem entendido, mas isso era matéria para os 
tempos obrigatórios .
Era apenas um passatempo necessário .

Mais adiante, foi que o meu Pai me avisou que no dia seguinte ia
para a escola nocturna, pois o futuro era via a ser 

Debuxador, 

que era o curso que estava a ter grande saída .

Nessa noite, lá de apagaram mais uns quantos sonhos e bizarrias .
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