sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A Estrada 236 .

Pedrógão Grande .

Os vendedores de sonhos .

Quanto mais o tempo passa, mais eu sinto aquelas 
trágicas sombras cravarem-se no meu espírito, 
aquelas manchas negras, de um lado e do outro da
estrada, serão gente, ou apenas as cinzas ali deixa-
das naquela estrada da morte, presas nos automóveis 
calcinados, como se tivesse havido uma descida aos in-
fernos .

Será que ainda lá estão os restos mortais, ou apenas 
as almas, daqueles que tentavam fugir ao vendaval de 
fogo, aprisionados à hora errada, no tempo errado ,
num terrível holocausto à beira da estrada .

Quem se esqueceu deles, quem os guiou para a morte,
quem não envidou esforços para evitar tão macabra fa-
talidade ?.

Como foi possível tão horrendo massacre, em pleno Sec.
XXI, num país que se gaba de ter atingido um tão eleva-
do grau de modernidade .

É fácil agora esgrimir culpas, sacudindo a águas sujas do
capote .
Mas logo, ali mesmo, no trágico local, a culpa foi assacada 
a quem não exibiu um ar suficientemente pungente, capaz  
de importunar os mais incautos .

Nesta história, fomos todos 
culpados .
Não há inocentes .

Como no romance de Hemingway,
o narrador perguntava :

"Se ouvires um sino a tocar,
  não perguntes por quem ele dobra,
  ele dobra por ti " (e por mim também ).

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